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Angela Merkel: uma breve análise de sua trajetória e as promessas de seu legado

Por Isabela Mendes e Juliana Santos



Enquanto primeira chanceler alemã, Angela Merkel é uma figura importante, não apenas em seu país, mas na Europa e no globo. Após 16 anos no poder, Merkel que se despede da chancelaria, ocupada agora por Olaf Scholz, se afirmou abertamente feminista, dizendo que o princípio do feminismo é a participação igualitária de homens e mulheres na sociedade. Sua biógrafa, Jacqueline Boysen, afirma que por ter que se posicionar em um ambiente majoritariamente masculino, Merkel representou sim as mulheres, mas nunca lutou abertamente pela causa, ou seja, questões de gênero não eram sua prioridade. É importante entender que no contexto político de Merkel, se dizer abertamente feminista poderia tornar sua eleição mais difícil, principalmente por parte dos homens conservadores, apoiadores de seu partido. Contudo, isso não significa que ela não se posicionou internacionalmente na defesa de mulheres e meninas, como aconteceu em seu discurso no Níger e na Coreia do Sul.


O ano de 1989, da queda do Muro de Berlim, foi importante para o envolvimento de Merkel na luta pela democratização. Nesse momento, membra do partido Despertar Democrático, na primeira eleição pós reunificação da Alemanha, Merkel foi eleita para o Parlamento Alemão, iniciando sua trajetória política:


  • Em 1990 aconteceu a primeira eleição após a reunificação da Alemanha, Angela foi eleita para a Câmara Baixa do Parlamento Alemão;

  • Em 1991 foi nomeada para o Ministério da Juventude e Família;

  • Em 1994 é nomeada Ministra do Meio Ambiente;

  • Em 1998 se torna secretária geral da União Democrata Cristã;

  • Em 2005 finalmente é eleita chanceler, se tornando a primeira mulher chefe do governo na Alemanha;

  • Em 2021 liderou seu país durante a pandemia e se despede da Chancelaria.


Importante notar que Merkel quando parte para o partido União Democrática Cristã, ajuda a reerguê-lo antes de ser eleita a primeira chanceler mulher do governo da Alemanha. (LIMA, ARAÚJO, 2018).


Sobre a liderança política de seu país, fato comum às mulheres políticas ao redor do globo, incluindo nossa ex presidenta Dilma Roussef, é que elas, geralmente, se masculinizam para se posicionar em um ambiente majoritariamente masculino. Conforme estudo de Cuadrados e Morales (2011), as características associadas a um bom líder político são firmeza, agressividade, racionalidade, caracterísitcas do esteriótipo masculino. Ademais, quando a mídia analisa um político homem, ela quase nunca se refere à sua aparência física, vestimenta, como acontece com as mulheres. Nesse sentido, Merkel enfrentou essas dificuldades, principalmente na ala conservadora de seu partido, ainda mais por ser divorciada. Entre 2009 e 2013 referências como Chanceler de Gelo e Iron Lady eram comuns na imprensa. (SUÁREZ-ROMERO, 2017).


Toda essa masculinização imposta para mulheres participantes da política é reflexo de uma sociedade machista em que é preciso se adaptar e se afastar de estereótipos femininos, como foi o caso nos longos anos de governo Merkel. Usar adjetivos como gelo e ferro, ainda que comprovem o seu pulso firme, era uma forma de masculinizá-la.


Com esse desafio, o contexto em que Merkel assumiu o governo em 2005 era de corte nas políticas sociais, e entre seus feitos, ela lidou com essa crise econômica, modernizou seu partido, ao, por exemplo, trazer a pauta do casamento homossexual, expandiu cuidados para a infância e alargou o critério de dupla nacionalidade para algumas categorias de migrantes, ajudando a lidar, por exemplo, com a crise de refugiados na Europa mais tarde, entre 2015 e 2016, quando abriu fronteiras e recebeu cerca de um milhão de refugiados, ato humanitário que gerou muita crítica em sua oposição e fez o partido perder votos dos eleitores conservadores. (FONSECA, 2019).


Em termos diplomáticos, com Merkel a Alemanha se manteve mediadora na arena internacional, com um caráter cooperativo, principalmente dentro da União Europeia. Em sua política externa, o bom relacionamento entre Alemanha e França e o fortalecimento da União Europeia estavam entre suas prioridades, assim como o fortalecimento da aliança com os Estados Unidos, o que não significa que não houve críticas por parte de Merkel para com o Governo Bush, por exemplo, caracterizado pelo caráter preemptivo do uso da força, críticas ao apoio alemão à invasão do Iraque, e o reforço e apoio à OTAN. Além da denúncia de violação de Direitos Humanos por parte dos EUA em Guantánamo. Com Merkel, a Alemanha se posicionou com China e Rússia e teve papel importante na Guerra da Síria e na questão dos refugiados na Europa. Mais recentemente com a pandemia do coronavírus, a liderança de Merkel se provou resiliente e por tudo isso, Merkel é sem dúvida uma das mulheres mais influentes do pós-Guerra. Seu legado continua, principalmente quando se trata da preocupação com o avanço do populismo de extrema direita na Europa. Nota-se que o partido de Merkel foi o que governou por mais tempo desde o fim da 2ª Guerra Mundial, e apesar de não ser social democrata mas sim conservador, a liderança de Merkel conteve o populismo de extrema direita crescente em toda Europa, e a expectativa é de que com Scholz, social democrata, esta luta continue (SANTIESTEBAN, 2017).


Mulheres enfrentam todos os dias diferentes formas de julgamento. Não importa qual posição exerçam. Angela Merkel transformou gerações. Os jovens provavelmente não se lembram de uma Alemanha que não seja a de Merkel.


A ainda atual Chanceler deixa como seu maior legado a certeza de que mulheres podem estar em todos os lugares, inclusive no cargo mais alto de um país. É perceptível como ela está bem mais relaxada nos momentos finais do seu governo, não existe mais uma eleição para ganhar, nem protocolos a seguir.


Todos nós devemos ser feministas, uma das líderes mais influentes e importantes do século 21 afirmou isso prestes a deixar seu legado e fazer história. São planos para a aposentadoria demonstram ainda mais uma quebra de expectativas para com uma sociedade global focada em simplesmente não parar. Merkel quer ler, dormir e caminhar. O entendimento, compreensão e aceitação do vulnerável fazem parte da vida. Angela parece viver isso de uma forma interessante.


Angela Merkel deixa o chancelado com uma sensação de dever comprido. Muitas coisas mudaram durante os seus quase 16 anos de mandato e o futuro na política global também será diferente, mais representativo. Seu legado marcou inúmeras gerações dentro e fora da Alemanha. Os primeiros passos do governo de Olaf ainda são incertos, a sua popularidade também. Mas, é possível afirmar que Merkel continuará influente.


Referências:

EVDOKIMOVA, Oxana e SEMENOVA, Janina. O que Angela Merkel fez pelo feminismo na Alemanha. DW, set. 2021. Disponível em:

https://www.dw.com/pt-br/o-que-angela-merkel-fez-pelo-feminismo-na-alemanha/a-59285558. Acesso em dez. 2021


SANTIESTEBAN, C. Orisel Sierra. La política interna y exterior de Alemania con Angela Merkel. Política Internacional, jun. 2017. Disponível em:

http://biblioteca.clacso.edu.ar/Cuba/isri/20171128024504/rpi26_2017.pdf#page=65. Acesso em dez. 2021


FONSECA, Ana Mónica. JANUS, Conjuntura Internacional, set.2019. Disponível em: https://observare.autonoma.pt/anuario/wp-content/uploads/sites/5/2021/04/JANUS-Anuario-2020-2021.pdf#page=29. Acesso em dez. 2021


BLANCO, Marian e BARANDA, Clara Sainz. Cobertura Mediática y Liderazgo político femenino en el caso de Angela Merkel. Investigación joven con perspectiva de género II, 2017. Disponível em:

https://e-archivo.uc3m.es/bitstream/handle/10016/26108/cobertura_suarez_IJCPG_2017.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em dez. 2021


ARAUJO, Joyce M. Mertig e Lima, Daiane Soares de. Mulheres na política, a repressão, a masculinização e a mídia: os casos de Angela Merkel, Dilma Rousseff, e Park Geun-Hye, nov. 2018. Disponível em:

https://dspace.unila.edu.br/bitstream/handle/123456789/4247/SARI_2019_15-21.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em dez. 2021.


CRAVEIRO, Rodrigo. Dormir, caminhar e ler: saiba quais são os planos de aposentadoria de Merkel. Correio Braziliense, dez. 2021. Disponível em:

https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2021/12/4969237-dormir-caminhar-e-ler-saiba-quais-sao-os-planos-de-aposentadoria-de-merkel.html. Acesso em dez. 2021.



REMTER-NEUMAYER, Susanne, WOOD, Tanya e WISCHGOLL, Petra. Com feminismo relutante na fala, mas não na prática, chanceler da Alemanha inspira mulheres em todo o mundo. O Globo, set. 2021. Disponível em:

https://oglobo.globo.com/mundo/celina/com-feminismo-relutante-na-fala-mas-nao-na-pratica-chanceler-da-alemanha-inspira-mulheres-em-todo-mundo-25195605


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