por Kethlyn Winter
O estudo das Relações Internacionais surgiu no momento posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial, com objetivos limitados a entender as questões de guerra e paz. A disciplina portanto, inicia-se a partir de considerações demarcadas pelas teorias Realista e Liberal, que buscavam compreender a ontologia das Relações Internacionais com foco no Estado, desclassificando as questões de relações sociais de poder (NOGUEIRA, MESSARI, 2005; HOFFMAN, 1977; SORENSEN, JACKSON, 2013). No que tange ao segundo debate, seu foco não estava mais na ontologia das RI, e sim na metodologia. O objetivo deixa de ser “o que” estudar para se entender “como” estudar a disciplina (NOGUEIRA, MESSARI, 2005). Dessa forma, as ciências sociais passaram a fazer parte dos debates de maneira bastante ativa, enfatizando a corrente behaviorista.
A partir de então, e mais profundamente desde o terceiro debate, correntes feministas se colocam em evidência para criticar as teorias convencionais da disciplina (TICKNER, 2001). As abordagens feministas buscam, então, relacionar gênero ao campo de estudo das Relações Internacionais. Para além das abordagens feministas, o terceiro debate se pauta em teorias críticas, e o construtivismo ganha força, junto aos pós-estruturalistas. Até o terceiro debate havia pouca diferença epistemológica entre os lados das “disputas”, tanto liberais quanto realistas concordavam com um sistema internacional anárquico. Porém, liberais acreditam que a mesma poderia ser amenizada através de instituições internacionais. E os realistas achavam que a anarquia era o que moldava a relação dos Estados.
A partir da década de 1980 ocorre o aumento da teoria crítica nas Relações Internacionais, que se torna base de boa parte das teorias pós-positivistas. Por isso as metas teorias - teorias sobre teorias - são muitos presentes no quarto debate. Ajudam a posicionar a forma como os teóricos veem o mundo. O Construtivismo, enquanto teoria das Relações Internacionais, propõe analisar o Sistema Internacional a partir de algumas características particulares que o diferenciam tanto da mainstream quanto das demais teorias críticas da disciplina. Uma das suas principais características, que a tornam a teoria crítica das Relações Internacionais, é como concebe a relação entre agente e estrutura (DEBRIX, 2002). Os autores construtivistas aceitam elementos das abordagens tradicionais, mas acrescentam variáveis subjetivas. Já os autores pós-estruturalistas relativizam de maneira radical as perspectivas mainstream. Diferentemente dos construtivistas, os pós-estruturalistas vão desconstruir e não partem do princípio de que existe uma estrutura. Eles estão questionando a própria existência de uma estrutura internacional, que até o construtivismo de Wendt não era algo questionável. Os pós-estruturalistas fazem parte do pós-modernismo e eles vieram para questionar essa estrutura internacional existente. Vale destacar ainda a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, que baseada nas teorias marxistas que é baseada na mudança e renovação ela vai ser inspiração para os grandes teóricos da teoria crítica, principalmente Cox. Como subitem se destaca a extensa tradição intelectual, formada por vários pensadores que tinham em comum a origem no pensamento marxista. A preocupação central desta teoria era a emancipação humana. Como emancipar a sociedade humana, de uma forma geral? Buscando como fim a mudança, renovação social, justamente por estar moldado em ideais marxistas. Ideais estes não formulados especificamente para as Relações Internacionais, mas que podem ser utilizados como base de reflexão para como funciona o sistema internacional (PECEQUILLO, 2012).
Em resumo, é possível ilustrar os quatro debates das Relações Internacionais conforme o quadro abaixo:
Ao que importa para o presente texto, é necessário destacar o terceiro debate, em que as teorias feministas começaram a surgir e lançar discussões acerca da construção de gênero nas Relações Internacionais. Vale destacar que a construção política de gêneros implica na hierarquização e valorização do homem e do que é masculino (MONTE, 2013). Ainda, consoante a Monte (2013) essa diferença entre gêneros reflete a maneira de pensar e interpretar a relação entre os Estados a partir de uma ótica limitada de gênero, dando lugar à uma esfera masculina e, portanto, patriarcal.
Considerando a teoria dos atores e entendendo-os como participantes das relações internacionais por meio de seus atos (OLIVEIRA; SILVA, 2011), é afirmativo suas influências na dinâmica e política internacionais. Assim, as lentes femininas não se limitam a pensar acerca da desigualdade de gênero, mas além de tudo, buscam compreender a ordem internacional a partir de outras lentes, contribuindo para um Sistema mais igualitário, completo e dinâmico.
Em adição, as abordagens feministas têm em comum o fato de incluir no seu projeto científico uma dimensão política – não apenas de superação da opressão feminina, mas também de construção de uma ordem internacional mais justa, na qual hierarquias, de gênero, classe ou raça, não estejam presentes (MONTE, 2013, p. 68).
As Relações Internacionais está em constante transformação, principalmente no que tange a definição de seus atores, sendo eles um número crescente. A construção de gênero na disciplina não se configura mais como algo periférico e limitado a defesa de uma opressão feminina. Logo, pensar o feminismo no âmbito das RI, significa por conseguinte, refletir o papel das mulheres no campo do estudo internacional. Dessa forma, é possível acrescentar à disciplina ontologia e metodologia singulares, que desfazem barreiras hierárquicas, exploram novas identidades e abordam novas questões e sentidos. As teorias Feministas desafiam a visão do Estado como ator principal e as divisões de segurança e anarquia, mostrando que as desigualdades entre gênero geram insegurança no SI (TICKNER, 1997).
Bibliografia
DEBRIX, Francois. Language as Criticism: Assessing the Merits of Speech Acts and
Discursive Formations in International Relations. New Political Science. 24. 201-219,
2002.
HOFFMAN, Stanley. International Relations: An American Social Science. Deadalus, n.
106, ed. 3, 1977.
JACKSON, Robert e SORENSEN, Georg. Introduction to International Relations.
Theories and approaches. Oxford University Press: Oxford, 2013
MONTE, Izadora Xavier do. O debate e os debates: abordagens feministas para as relações internacionais. Estudos Feministas, v.21 n.1. Florianópolis Jan./Apr., 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-026X2013000100004
NOGUEIRA, João Pontes; MESSARI, Nizar. Teorias das Relações Internacionais:
correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
OLIVEIRA, Odete Maria de; SILVA, Andréia R. da. Gênero como possível ator das Relações Internacionais. In: OLIVEIRA, Odete Maria de. Relações Internacionais: a questão de gênero. Ijuí: Ed. Unijuí, 2011, p. 23-81
PECEQUILLO, Cristina. Manual do candidato. Política Internacional, FUNAG,
Brasília, 2012.
TICKNER, J. A. You just don’t understand: troubled engagements between feminists
and IR theorists. International Studies Quarterly, v. 41, n. 4, p. 611-632, 1997.
TICKNER, J. A. Gendering world politics: Issues and approaches in the post-Cold War
era. Columbia University Press, 2001.
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